O cidadão comum habituou-se a ouvir os políticos afirmarem que o nosso país recebeu verbas astronómicas dos fundos comunitários, já desde o período de pré-adesão.
Uns fazem-no para provar que as somas gastas não trouxeram resultados positivos no desenvolvimento sustentado da economia e, por isso, chegámos ao estado em que estamos; outros alegam que as verbas provenientes dos fundos estruturais foram utilizadas na construção do suporte humano e material, dando adequada formação aos cidadãos e construindo infraestruturas fundamentais ao desenvolvimento.
O certo é que, quando avaliados os parâmetros em que assenta o nosso bem-estar, concluímos que, se muito se alterou para melhor, - e hoje os Açores têm, indubitavelmente, melhores condições de vida - também é verdade que a nossa pequenez e fragilidade impedem-nos de resistir aos abalos económicos e financeiros, como os que estamos a viver, e de encontrarmos, rapidamente, novas saídas. A insularidade e ultraperiferia atrasam os efeitos e também o termo das crises.
O estatuto de ultraperiferia, consagrado pela União Europeia em programas específicos de que revertem apoios financeiros, não deve ser nem a consagração de uma inevitabilidade, nem o assumir que os Açores estão condenados a ser uma região pobre, devido à insularidade que nos afasta das economias de escala. Essa concepção faz parte de um paradigma económico que nos conduziu à situação em que nos encontramos.
Temos potencialidades naturais e estratégicas reconhecidas pelas fontes do saber e da ciência, embora sejam desvalorizadas pelos donos do mundo, para delas tirarem proveito quando bem lhes apetecer, a troco de uma cascarrilha, como acontece com tantos países ricos em matérias primas, mas pobres porque sem “know-how” e capacidade de investimento.
É aqui que reside a chave do nosso desenvolvimento.
Se continuarmos a desbaratar os milhões da União Europeia, (só em 2012 ascenderam a 183 milhões de euros as verbas procedentes de fundos comunitários) na construção de estruturas de muito duvidosas mais-valias, corremos o risco de construir elefantes brancos que mais hoje mais amanhã cairão sobre as nossas cabeças. Refiro-me às tão conhecidas rotundas e fontes luminosas, a enormes salões sem benefício social, à reparação de praças públicas só para mudar o visual e deixar o nome das autoridades na placa, a tantos e tantos gastos supérfluos que deveriam ser encaminhados para prioridades sociais destinadas à criação de postos de trabalho, ao empreendedorismo, à recuperação do parque habitacional urbano, à animação do comércio tradicional, do turismo, da investigação, sem os quais a muribunda economia não se reanimará.
Esta tarefa cabe a todos os governantes: nacionais, regionais, municipais e locais.
O cidadão comum não aceita que os dinheiros públicos provenientes dos seus impostos, sejam geridos sem parcimónia e objectivos válidos pelos diversos poderes.
Quando a prioridade deve ser o emprego em todas as faixas etárias, não se compreende que as autoridades, repito: nacionais, regionais, municipais e locais, não conjuguem esforços para responder a este drama, de uma forma concertada e programada, nas suas áreas de competência. São por demais conhecidos casos de duplicação desnecessária de estruturas que a ninguém aproveita e só dá momentâneo protagonismo aos seus autores.
O povo no seu sensato pensar critica esses comportamentos que desacreditam o poder dos eleitos.
O ano que decorre ainda vai no início, mas, face às eleições autárquicas, nota-se a preocupação pelo cumprimento de promessas feitas há quatro anos, quando ninguém acreditava que a crise desse no que deu. Impõe-se, portanto, que alguns desses compromissos eleitorais não prioritários sejam repensados e reavaliados para se acorrer a necessidades imperiosas.
Exige-se aos governantes que, perante novas situações, sejam perspicazes na análise e lestos em tomar decisões adequadas à mudança.
Quem assim proceder alterará o rumo dos acontecimentos, servirá o bem comum e será reconhecido pelos eleitores.
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